domingo, 13 de novembro de 2016

Ir ou não ir...



Seu sorriso é o que ele mais lembra em todos os momentos que precisa pensar em algo bom. Naquela manhã de sábado, em especial, ao chegar mais uma vez, esse mesmo sorriso inundou seu coração dando-o coragem para fazer o que há muito tempo desejara.
Tobias ainda lembra a primeira vez que entrou na livraria e, Camile, com seus lábios resplandecentes, o ajudou a acomodar-se e o disponibilizou os melhores livros de turismo que possuía. Desde então, ela continuava a fazê-lo, todos os dias, há um mês.
Desta vez ele não se demorou muito e, também, não esperou ela ajuda-lo a se retirar como de costume. Tobias já acenava da porta quando ela se deu conta que seu lugar na mesa estava vazio. Ao guardar os livros, com a xícara de chá pousando ainda quente sobre o pires, um envelope com seu nome mostrou-se de relance. Ela olhou mais uma vez para porta esperando que Tobias ainda estivesse lá, mas ela sabia que não estaria. Aproveitando o vazio da livraria ela sentou-se e abriu lentamente o envelope. Retirou um papel com uma textura delicada, em cor pálida, e as palavras escritas a punho não poderiam deixa-la mais pensativa:

“Sinto que não consigo mais me concentrar nos livros quando o que mais quero é conversar com alguém o que está em meus pensamentos e em meu coração. Caso possa me conceder esta oportunidade espero você hoje à noite, às 18h00, neste endereço (...) se identifique a um senhor chamado Otávio.”

Em um misto de dúvidas, pensamentos e sensações o dia demorou um século a passar e sua atenção dispersa não ajudou em seu trabalho. Logo, quando fechou a livraria gostaria de ter caminhado mais rápido, porém, seus passos até o ponto de ônibus foram mais lentos que o normal.
Dezoito horas. Ao descer a rua e caminhar até chegar a sua casa, a decisão do que deveria fazer sequer estava dando sinais de preencher o vazio deixado por suas perguntas: quem era ele de fato? O que poderia querer? Por que ela e não outra pessoa? Ir ou não ir? Ir ou não ir? Ir ou não ir?
Quando a água quente de seu banho parecia aliviar suas tensões ela percebeu que sua vontade de ir era mais forte que o medo de não desvendar o mistério de seu futuro, traçado a partir dàquele envelope deixado a sua espera.
Dezenove horas e trinta minutos. Ela estava pronta e ao tocar a maçaneta da porta, paralisou. O medo, a dúvida e a insegurança eram correntes que agora se fizeram presentes de uma forma nunca vista antes. Quando deu por si estava no sofá, deitada olhando o teto e os reflexos que os faróis dos carros deixavam quando passavam na rua.
Abrir a livraria nunca foi tão difícil. Olhar nos olhos dele então, era impensável. O que acabou por não ocorrer. De certa forma; ela o esperou o dia todo, mas nada. Ele não apareceu.
Seus passos foram rápidos até encarar o endereço no papel: uma sorveteria. Respirou fundo e entrou:
− Sr. Otávio, por favor. – Disse ela timidamente a um rapaz no balcão. Ele apontou para uma mesa no canto, aonde havia um senhor olhando a rua através da vidraça.
Ela encaminhou-se até ele. – Com licença. O senhor pode me dizer onde posso encontrar um jovem chamado Tobias?
O senhor a olhou com um olhar profundo e retirou um pequeno papel do bolso.
− Camile, eu suponho. – Disse ele sem expressão. – Ele pediu para lhe entregar este papel.
Em um guardanapo, talvez pego como única alternativa de um momento não esperado, ela leu a única coisa que ficou deste dia pra sempre com ela.
“Há um tempo para tudo neste mundo. O fato é que agora nunca saberemos o que o futuro reserva caso o seu agir fosse no momento oportuno. Nem antes, nem depois. Caso viver com o SE seja o seu destino, esta será a base de sua vida.”


Por Herbert Monteiro

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Superando a perca...

“Tinha um amigo que era meu parceiro mesmo, pra tudo a gente tava junto conversando, dividindo tudo e a gente gostava muito de curtir a vida. Ele perdeu a vida em um acidente de moto faz 6 meses quando dava o grau na moto e um carro bateu nele, sofri na época e eu não consigo pensar nele sem sofrer muito porque dizem que procuramos isso. Ele era bom, todo mundo gostava dele e fico pensando porque Deus permitiu isso e como posso superar isso também.”

Antes de tudo, obrigado pelo contato e pela confiança. Para facilitar nossa conversa eu te chamarei de Carlos, ok?
Carlos, a coisa mais importante que não podemos esquecer aqui é que nada vai tirar a importância do seu amigo na sua vida, tudo que vocês viveram e sentiram: nenhum julgamento das pessoas é capaz disso; e o fato de você não ter vergonha de assumir esse sentimento verdadeiro de amizade, sem reservas, é o que nos faz perceber o quanto as pessoas podem fazer a diferença nas nossas vidas.
Temos o controle sobre determinados momentos, outros não. Tentamos controlar sentimentos, muitas vezes sem sucesso. Ninguém quer sofrer, mas “Quando o sofrimento bater a sua porta” (ótimo livro de Pe. Fábio de Melo, por sinal) é necessário permiti-lo para depois conseguir superá-lo. Assumindo que estamos sofrendo é a base para vencermos esta barreira, diferente de quando fingirmos estar bem e continuamos fingindo toda uma vida.
Temos que ter cuidado com aquilo que acreditamos que “Deus permitiu”. Todos nós estamos sujeitos aquilo que é humano: doenças, acidentes, sofrimentos, etc. Da mesma forma estamos sujeitos às consequências de nossos atos (livre arbítrio). Vi que “dar o grau” é uma modalidade motociclistica reconhecida mundialmente chamada wheeling, que consiste em empinar a moto em alta ou baixa velocidade. Até aí beleza, mas pensando nos outros, será que quem “dá o grau” pratica em local adequado, utiliza os equipamentos de segurança, toma as devidas preucações em manutenção, se preocupa com as outras pessoas próximas?  Aí você diz: será que eu vim aqui pra um desconhecido vir dar lição de moral? NÃO. De forma alguma. O fato é que tudo acontece por um motivo.
Já pensou que tudo isso foi uma forma extrema de dizer: CARLOS (e pense aqui os muitos Carlos que estão em uma mesma situação), se cuida; ou então, CARLOS, não cometa o mesmo erro.
Quando você se cuida, você acaba cuidando de todos que estão a sua volta. Quando você sofre, seus amigos sofrem, sua família sofre e tudo vira um mar de sentimentos incontroláveis, porém, eles também compartilham perfeitamente de sua felicidade quando esta acontece.
Não culpe Deus por ter permitido que isso tenha acontecido, pois somos humanos e a bondade nunca foi um escudo protetor que evita todos os males, mas quando somos bons temos o apoio de todas as pessoas cuja nossa bondade foi capaz de alcançar.
Outra coisa que podemos pensar é: a forma que tudo aconteceu me deixa um aprendizado. Qual foi ele? (lembrando que o aprendizado só nos serve quando colcocamos em prática, caso contrário não nos adianta muita coisa).
Por fim, para superar tudo isso é necessário fazer com que a memória de seu amigo seja lembrada não como algo ruim, mas ter a certeza de que o que ele plantou em sua vida será base para muitas coisas que ainda estão por vir; honrar sua partida mostrando que sua mensagem foi recebida e posta em prática; e acima de tudo isso, perceber que Deus pode nos dá a chance de recomeçar, e quando temos esta oportunidade é o que de melhor podemos fazer, porque muitos não têm.

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Por Herbert Monteiro

Foto: Google Imagens