O que os olhos não veem!
O clima ameno de uma sexta-feira é o que
todos gostariam de ter, vibrando por um fim de semana fora dos padrões que a rotina
exige. Porém, a mesma caminhada o esperava, assim como os mesmos lugares, as
mesmas pessoas. Para tudo isso ele estava pronto, sempre com o mesmo
"eu".
—
Bom dia, Hugo — Exclamou felizmente sua colega ao vê-lo entrar pelo portão
prateado da escola, recém pintado. —Tudo bem?
—
Bom dia! — Respondeu ele com os olhos brilhantes de sempre. — Claro! E você?
Perguntas iguais de remetentes diferentes
são feitas todos os dias, automaticamente como uma programação de redes sociais,
nem sempre pelas mesmas pessoas, mas uma coisa é certa: querem sempre as
respostas que as satisfazem. Será que as pessoas nunca percebem que, na maior
parte do tempo, dizer que tudo está bem é mais fácil que responder a uma
sequência de outras perguntas que não querem ser respondidas?
Hugo era o amigo ideal, o filho exemplar,
o aluno que supera as expectativas, o cristão que parecia não ter defeitos...
menos o que ele mesmo gostaria de ser, porque nem ele mesmo sabia o caminho
para isso.
Naquela manhã, em especial, o professor de
matemática parecia demonstrar algo indecifrável. Seus pensamentos esvoaçavam em
um milhão de coisas, sem foco, sem direção.
O
que está havendo? Por que isso, agora? Será que felicidade é só viver em um
mundo de aparências? — As perguntas não davam tempo às
respostas. O peito apertou e a respiração tornou-se anormal de forma repentina,
como se tivéssemos um susto de algo que estamos para descobrir subitamente. Ele
chegou a sentir a umidade que chegava em suas pálpebras e a enxergar através
delas. Isso não podia acontecer! Não sem um motivo, sem um porquê. Não há
lógica nisso, mas quem precisa de lógica para sentir?
Ele levantou-se de sua carteira para
caminhar em direção à porta da sala de aula, deixando o celular cair ao chão.
Não olhou para trás, e agora, já no imenso corredor, correu como se a última
coisa que quisesse fosse saltar o portão que o impedia de ser livre. Não
precisou. Ele estava aberto. Correu e continuou correndo, vendo de relance as
sombras das pessoas que o olhavam e das árvores nas calçadas que nunca o
acompanhariam. O gosto salubre da lágrima parecia algo que nunca havia sentido
e não era para ser perceptível agora.
A buzina estridente de
uma caminhonete o fez acordar do transe e virar-se quando percebeu que já
estava no meio da rua, dois ou três carros parados repentinamente para evitar o
acidente. Ele limpou o rosto e caminhou devagar. Só um lugar veio a sua mente:
o observatório da cidade, a poucos metros dali.
Em poucos minutos, a uma altura grande o
suficiente para sentir o vento gélido, mesmo diante do brilhar do sol, ele
segurava as grades de proteção e fitava ora o horizonte, ora as pessoas na
correria de sempre, como pontos pequenos lá embaixo.
O
que é mais fácil: viver aqui tendo sensações que nem você entende ou entrar em
um sono profundo onde tudo será paz? — Perguntava-se quando
se deu conta o quanto seria fácil voar dali sentindo o ar de liberdade até o
encontro da verdadeira paz. Fechou os olhos. O coração bateu forte, sentindo-o
no tremer dos seus lábios. Simples, rápido, fácil. O silêncio.
—
Rapaz — Uma voz rompeu a calmaria. — Você pode tirar uma foto nossa? Estamos em
lua de mel e gostaríamos de ter esta paisagem em nossas recordações.
Agora, sentado na varanda de sua casa, lutava
para não pensar no hoje, enquanto olhava o crepúsculo através de uma árvore há
muito vivida e que, apenas agora, chamou como nunca sua atenção para uma nova
perspectiva. Pensava consigo mesmo quantas vezes a observou como um ser
solitário que vive para ver o brilho de algo maior. Hoje, como um ser ainda
solitário, mas que por algo maior viveu e vive deixando os rastros de sua existência.
—
Oi, meu amor. Está tudo bem? — Perguntou sua mãe que chegava do trabalho e
deslizou sua mão sobre os cabelos de seu único filho.
—
Claro! E a senhora?
Por Herbert Monteiro
Foto: Jennyffer Lopes (Amiga Incrível)
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